
Deixa-me ficar com ela,
neste momento em que preciso
de uma mão. Da tua mão.
Porque tenho medo,
porque me sinto só,
porque estou tiste...
dá-me a mão.
Faz-me falta a tua mão.
Não digas nada, dá-me só a mão.
A pequena lebre castanha, que se ia deitar, agarrou-se bem agarrada às orelhas muito compridas da grande lebre castanha. Quis ter a certeza de que a grande lebre castanha estava a ouvir.
- Adivinha quanto eu gosto de ti – disse ela.
- Ora bem, acho que não consigo adivinhar isso – disse a grande lebre castanha.
- Como assim - disse a pequena lebre castanha, esticando os braços o mais que podia.
A grande lebre castanha tinha uns braços ainda maiores.
- Mas eu gosto de Ti assim – disse ela.
"Humm, é muito", pensou a pequena lebre castanha.
- Gosto de ti esta altura toda – disse a pequena lebre castanha.
- E eu gosto de ti esta altura toda – disse a grande lebre castanha.
"É mesmo alto" pensou a pequena lebre castanha. "Quem me dera ter uns braços assim".
Então a pequena lebre castanha teve uma boa ideia. Fez o pino, encostada ao tronco muito esticadinha.
- Gosto de ti até à ponta dos pés! - disse ela.
- E eu gosto de ti até à ponta dos teus pés – disse a grande lebre castanha, fazendo-a girar por cima da cabeça.
- Gosto de ti até onde eu consigo saltar! – riu-se a pequena lebre castanha, dando pulos e mais pulos.
- Mas eu gosto de ti até onde eu consigo saltar – sorriu a grande lebre castanha, e saltou tão alto que as orelhas tocaram no ramo da árvore.
"Isto é que é saltar", pensou a pequena lebre castanha. "Quem me dera saltar assim".
- Gosto de ti o caminho todo até ao rio – gritou a pequena lebre castanha.
- E eu gosto de ti até depois do rio e dos montes – disse a grande lebre castanha.
"É mesmo longe", pensou a pequena lebre castanha.
Tinha tanto sono que já quase nem conseguia pensar. Então olhou para além das moitas, para a grande noite escura. Nada podia ser mais longe do que o céu.
- Gosto de ti até à lua – disse ela, e fechou os olhos.
- Ora, se isso é longe – disse a grande lebre castanha.
– É mesmo, mesmo longe.
A grande lebre castanha deitou a pequena lebre castanha na caminha de folhas. Inclinou-se e deu-lhe um beijo de boas-noites. Depois deitou-se muito pertinho e murmurou sorrindo:
- E eu gosto de ti até à lua …... e de volta até cá abaixo.
- Sam McBratney -
.
Não há como medir sentimentos... gosta-se e pronto! Há sim, muitas formas de mostrá-lo.
Este texto foi 'pedido emprestado' ao Dry Martini que, simpaticamente, acedeu ao pedido. Obrigada, Dry. É lindo! Como o Principezinho, com conteúdo...
'Conto de fadas, tragédia, idealista, deprimente, mas, contudo, revigorante. A primeira longa-metragem de Yann Samuell é um hino à infância, o tesouro mais puro, quando somos capazes de tudo, sobretudo, de sonhar. Riem-se e magoam-se, numa cumplicidade que só eles entendem. Cada vez que jogam dizem que são capazes de fazer tudo o que o outro pedir, sem duvidar. Cada vez que dizem “Cap” estão a dizer que se amam, sem o saber ou o conseguir dizer de outra forma.'
Está no meu top, bem lá em cima. Vi e revi, uma e outra vez. Deliciosamente apaixonante, arrebatador, cruel e, acima de tudo... imperdível.