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Foi sempre tão incerto o caminho até ti: tantos meses de pedras e de espinhos, de maus presságios, de ramos que rasgavam a carne como forquilhas, de vozes que me diziam que não valia a pena continuar, que o teu olhar era já uma mentira; e o meu coração sempre tão surdo para tudo isso, sempre a gritar outra coisa mais alto para que as pernas não pudessem recordar as suas feridas, para que os pés ignorassem as penas da viagem e avançassem todos os dias mais um pouco, esse pouco que era tudo para te alcançar. Foi por isso que, ao contrário de ti, não quis dormir nessa noite: os teus beijos ainda estavam todos na minha boca e o desenho das tuas mãos na minha pele. Eu sabia que adormecer era deixar de sentir, e não queria perder os teus gestos no meu corpo um segundo que fosse. Então sentei-me na cama a ver-te dormir, e sorri como nunca sorrira antes dessa noite, sorri tanto. Mas tu falaste de repente do meio do teu sono, estendeste o braço na minha direcção e chamaste baixinho. Chamaste duas vezes. Ou três. E sempre tão baixinho. Mas nenhuma foi pelo meu nome.
- Maria do Rosário Pedreira -
4 comentários:
:) Foi sim. Essa falsa modéstia fica-te tão mal! :D hehehehe
Mas o texto é muito bom, sim senhora!
Beijo azulão e amigão
Gostei de ler...
E eu acho que foi, sim, pelo teu nome,ou não queres ouvir?
Gosto tanto de Maria do Rosário Pedreira! A nostalgia, o ramantismo, a tristeza dos seus textos deixam-me sempre extasiada!
Estou certo que há muita gente a chamar o teu nome .)
XinXin
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