Tardávamos diante das palavras, como se os olhos fossem cegar sobre as páginas que não acabávamos de ler, só para fazer durar o engano, o livro, o tempo de todas as leituras. Guardávamos silêncio à cabeceira. E cruzávamos de noite os dedos à procura da luz que emanasse de um seio, da onda do cabelo sobre a orelha, dos ombros, da cintura, do começo dos lábios. Normalmente, achávamos apenas a sombra da roupa na curva dos joelhos, a penumbra entre os nossos corpos quietos e deitados.
É nas linhas das mãos que os deuses escrevem os mais belos romances. Nas nossas, porém, somente elaboraram um divertimento, um esboço, um rascunho, nem sequer literatura.
- Maria do Rosário Pedreira -
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