segunda-feira, abril 13, 2009

Como odeio banalidades!

Eu, que sou mais banal e vulgar que a mais banal das mulheres. Eu, que sou tão comum que nem preciso olhar-me ao espelho, igual que sou a tantas outras mulheres com que me cruzo e das quais não me distingo. Eu odeio a banalidade! Odeio as frases feitas de quem pergunta: Olá, como está?, e nem quer saber. Odeio os bons dias, as boas tardes, as boas noites, ditos sem pensar, ou a pensar em coisa nenhuma, ou a pensar noutra coisa qualquer que não o desejo que o dia, a tarde ou a noite nos corram bem e sejam bons. Eu odeio frases feitas! Odeio as vizinhas à janela, as amigas e amigos nos cafés, nos bares, nos autocarros, com vidas tão fúteis e pequeninas que dissecam as dos outros, que cortam a casaca dos melhores amigos pedaço a pedaço, achando que os amigos são os melhores amigos, e nunca cortariam as deles. Mas cortam! E são más-línguas, maus carácteres, sem carácter! Eu odeio vizinhas a bisbilhotar à janela! E as pessoas que passam? E a multidão anónima que percorre as ruas em zig-zag, evitando pedintes e mãos que se estendem? E que colam a mala ao corpo, achando que ser pobre é ser ladrão. E se aconchegam na roupa comprada na Zara ou nos mercados de rua, mas muito sua! E que são caridosos, piedosos, apiedados, compreensivos com a desgraça alheia se não tiverem de dar um cêntimo e a caridade for só da boca para fora! Eu odeio a caridade hipócrita da multidão! E os gajos? Os gajos mesmo gajos! Os gajos na verdadeira acepção da palavra! Os que se sentam em esplanadas ou se encostam em montras, esperando as mulheres, as deles, e discretos apreciam pernas e cus das outras, as que passam. E lambem os beiços e coçam os tomates e pensam ou dizem: Esta gaja é muita boa! Como odeio a frase "esta gaja é muita boa", dita por gajos que em casa têm mulheres que nem olham. E às quais nem falam. E que na cama despacham sexo e mulher, despejando o desejo das gajas boas que comeram com os olhos, na rua. Ah! Como eu odeio estes gajos! E as gajas? As santinhas, as púdicas, as que têm sempre na ponta da língua um: Ai credo, um julgamento, uma condenação. As que são contra o aborto, contra a pílula, contra a educação sexual, contra tudo que seja sexo! Escrito, pintado, feito ou falado. E quando têm "maus pensamentos" correm às sacristias: Sr. Padre, sonhei que estava a fazer sexo oral, confessam. Como se sexo oral fosse um pecado capital, esquecendo que só o peixe morre pela boca. E lavam as mãos nas pias, e cumprem todas as penitências, mas falam do sexo da vizinha que é uma descarada. E são donas de verdades absolutas. E nunca têm dúvidas. E só dizem… B a n a l i d a d e s! Ah! Como odeio falsas santinhas e ratas de sacristia! E eu? Eu que sou banal, normal, vulgar, mas odeio a vulgaridade. Eu que mando à merda quem me chateia. Eu que escrevo asneiras se me dá na gana, e que para um sacana sou sacana e meia! Eu odeio sacanas! Aqueles de falas mansas e que parecem santos, e que dão a roupa toda e pelos outros ficam em pêlo, mas em casa vão ao pêlo às mulheres, e deixam-nas: negras de pancada, negras de dor, negras de pavor. Ah… Se pudesse dava um tiro nos cornos desses sacanas! E de outros: os abusadores, os ladrões de inocências, os que roubam infâncias e semeiam pesadelos. Esses, castrava-os a todos! Os do passado, do presente e do futuro, já que a justiça não castra senão a esperança de justiça!… Eu, que sou mais banal e vulgar que a mais banal das mulheres. Eu, que por fora ninguém distingue ou olha duas vezes ao passar. Odeio banalidades!

(desconheço o autor)

3 comentários:

Bi disse...

Quando passamos por alguém (banal)e não olhámos uma segunda vez, por vezes perdemos a oportunidade de conhecer o excepcional.

Oliver Pickwick disse...

Há muitas verdades ditas por esta mulher banal e vulgar, inclusive, boas sugestões a la código de Hamurábi, tão necessários nestes tempos.
Lamento pelo Batô, mas ao menos está feliz - e bonta, ao lado do seu amigo Ti.
Um beijo!

O Profeta disse...

Mas um beijo às vezes
Faz parar o tempo em seu desvario
Arranca mil sentires à alma
Voa no celeste preso em terno fio

Liberta esta lava incandescente
Transbordante em teu peito palpitante
Dá-te as asas de um pássaro azul
Transforma o eterno em sublime instante



Bom domingo


Doce beijo